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São Paulo, a Antiga Terra da Garoa

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“Ê, São Paulo
Ê São Paulo 
São Paulo da garoa 
São Paulo que terra boa.”

Do ponto de vista climático, São Paulo é caracterizada pelo clima tropical de altitude, devido ao gradativo aumento da umidade no final da primavera e início do outono, que são as estações de transição, respectivamente, para o verão (chuvoso) e inverno (seco). Uma intensa garoa regava o solo e o imaginário de artistas paulistanos. Atualmente, esta condição praticamente deixou de existir. Os motivos são os mais diversos, não sendo necessariamente ocasionados pela “martelada” mudança climática global, mas sim pelas modificações antrópicas associadas a um acelerado processo de crescimento urbano.

As alterações antrópicas que contribuíram decisivamente para acabar com a “garoa paulistana” estão ligadas ao próprio desenvolvimento da cidade. A construção das habitações em áreas legais e ilegais, de comércios, ruas, pontes resultou na retirada de árvores, importantes dispersoras de umidade (através da evapotranspiração); a impermeabilização do solo reduziu a infiltração e a umidade que ele proporcionava (também aumentou o escoamento superficial e contribuiu terminantemente para as enchentes). A retificação e canalização dos rios reduzem de forma marcante a oferta de umidade, a verticalização prejudica a circulação dos ventos e o deslocamento da umidade e a poluição, associada “às ilhas de calor”, aumenta muito a incidência de tempestades.

Pesquisas recentes (Fapesp e INPE) demostram o aumento de tempestades em detrimento da garoa, isso ocorre devido às ilhas de calor, que atuam aumentando a velocidade da evaporação, e à poluição, responsável pelo material particulado, que serve como “núcleo de condensação”. Assim, a velocidade de formação da precipitação (chuva) é muito maior, dessa maneira, vão ocorrer mudanças no padrão das precipitações com maior ocorrência dos eventos de tempestades.

São Paulo dificilmente voltará a ser a “terra da garoa”, pois medidas para reverter o processo de degradação que foi instalado são muito complexas e somente surtirão efeitos a longo prazo. Mas isso não quer dizer que devemos cruzar os braços. Medidas para mitigar os efeitos da poluição, das ilhas de calor (que também causam grande desconforto térmico) e das enchentes fazem parte da administração eficiente de uma cidade, devendo ser colocadas em prática algumas ações como: o plantio de árvores, a construção de praças, a retirada da cobertura de concreto e asfalto de áreas estratégicas (várzeas, por exemplo), a redução da verticalização em áreas de topos, a “descanalização” de rios e córregos, etc. Estas são medidas que no atual momento, apesar de serem mitigatórias, podem melhorar a vida das pessoas que moram em São Paulo. Mas, o título de “terra da garoa” já não vai mais ser de São Paulo.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do Hexag.

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Sobre o autor

Professor William Hexag Mackenzie

William Oliveira

William Oliveira é professor de Geografia no Hexag Vestibulares.